Por que magoamos até quem mais amamos?
Como seres sociais, nós temos a necessidade de
conviver com os outros. Uns mais e outros menos. No entanto, todos –
absolutamente todos – temos uma
necessidade intrínseca de ligação – seja com o universo, com os outros seres ou
simplesmente com o nosso interior.
Não só gostamos, como também PRECISAMOS de ser
ouvidos, entendidos e amados. De modo a existir um equilíbrio, a vida garantiu
que essa necessidade existisse nas duas direcções, isto é, precisamos
igualmente de escutar os outros, entendê-los e mais fundamentalmente: AMÁ-LOS.
Se todos queremos amar e ser amados, ouvir e ser
ouvidos, por que então há tanto desentendimento e conflitos entre as pessoas,
especialmente entre as pessoas mais próximas e que mais se amam? Por que
magoamos os que mais queremos bem e o mesmo nos é feito por eles?
A explicação que eu encontro não tem a ver com o facto
de sermos más pessoas, mas sim com a necessidade intrínseca que temos de
partilhar quem nós somos e o facto de o fazermos de forma inconsciente. De
acordo com a lei da vida, só podemos partilhar aquilo que nós somos ou temos.
Se consegues perceber que só podes partilhar um objecto se o tiveres, deves
compreender que o mesmo se aplica aos sentimentos.
Em outras palavras, quando nos sentimos mal, temos a
NECESSIDADE de expressar isso de alguma forma e de sermos percebidos, não
apenas teoricamente, mas a um nível mais profundo. Isso leva-nos muitas vezes a
fazer INCONSCIENTEMENTE com que o próximo se sinta mal, para que ele possa
também “partilhar” daquilo que eu sinto.
Isso acontece ainda mais especialmente quando
assumimos que o outro é o “causador” desse mal-estar em nós. Não por um sentido
malicioso de vingança, mas sim por um sentido deturpado de justiça, queremos –
muitas vezes inconscientemente – que a pessoa sinta o que nós sentimos. Isto é
comum em situações em que nos sentimos injustiçados, revoltados, tristes,
magoados, manipulados, etc.
Por exemplo, senti-me triste porque alguém que eu amo
tratou-me mal e mesmo sem querer admitir, quero que a pessoa se sinta no mínimo
triste como eu, para que possa “aprender a lição” e não repetir aquilo que eu
percebo como erro. Infelizmente, inconsciência só gera mais inconsciência, e
conflitos mais conflitos, o que cria um ciclo vicioso de negatividade que, por
sua vez, contribui ainda mais para o desentendimento e mal-estar. Ao querermos “ensinar
uma lição” à pessoa, acabamos criando nela o mesmo sentimento de mágoa e injustiça
que ela vai querer “partilhar” connosco na primeira oportunidade que surgir.
Portanto, cabe a MIM assumir a responsabilidade pela
forma como me sinto. Se alguma coisa ou pessoa me fez sentir mal, na verdade
ela foi apenas um PRETEXTO para que a minha ferida interna fosse acordada.
Parece absurdo agradecer alguém por aparentemente nos prejudicar, mas a vida
escolheu aquela pessoa ou circunstância para nos ajudar a reconhecer os pontos
escuros da nossa alma e trazê-los à luz. Daí que é melhor reagir à situação com
gratidão ao invés de retaliação.
Sim, é algo doloroso muitas vezes. Sim, é natural que
a nossa primeira tendência seja procurarmos um culpado pelo nosso mal-estar – e
acredita, há sempre alguém ou alguma coisa que pode ser usado pela mente como o
culpado – mas o mais IMPORTANTE é reconheceres que o que está dentro de ti NÃO te
é dado ou tirado pelos outros e que o ÚNICO responsável pela maneira como
respondes às situações e às pessoas na tua vida ÉS TU mesmo(a).
Atenção, esta é
uma óptima notícia, pois apesar de parecer assustador e até inacreditável
no começo, quando aprenderes a assumir total responsabilidade pela maneira como
te sentes, vais gozar de uma liberdade jamais conhecida. Assim, poderás quase
sempre escolher CONSCIENTEMENTE como responder a situações e pessoas pouco
favoráveis da forma mais benéfica possível e acima de tudo, por mais difícil
que possa soar, podes escolher sempre a felicidade e a harmonia.
Um outro segredo para contornarmos e transformarmos o
mal-estar causado por alguém que amamos, é ganharmos coragem de dizermos
exactamente aquilo que as acções ou palavras da pessoa nos fizeram sentir, sem no
entanto, acusarmos o outro de seja o que for.
Dizemos COMO nos sentimos e não DE QUE a outra pessoa
é supostamente culpada. Desta forma, há mais chances da outra pessoa não ficar
na defensiva e com sorte reconhecer o que causou (muitas vezes sem querer) em
nós e com ainda mais sorte, mudar o comportamento voluntariamente.
Isso fará com que as relações que realmente importam nas
nossas vidas melhorem em termos de qualidade e sempre que isso não for
possível, podemos procurar outras relações que nos ajudem a crescer e a amar.
Por: LP Akshar Almeida