A sociedade passa-nos a ideia de que ser
um “homem de verdade” está associada à força, dominação, virilidade,
auto-controlo, tolerância à dor, etc. São esses e mais conceitos que são
transferidos para o campo das relações afectivas e sexuais também. Isso faz com
que vivenciemos a masculinidade de uma forma hermética e rígida.
O homem muitas vezes acredita que não pode ser
sensível, algo que se revela uma armadilha, já que ser sensível significa
capacidade de sentir e é o que precisamos para sentir prazer, entre outras
coisas.
Frequentemente acreditamos que como homens,
temos de ter sempre iniciativa quando se trata de se envolver tanto romântica
como sexualmente com os outros. Aprendemos que se não formos caçadores e não
conquistarmos, não somos homens suficientes. A própria palavra conquistar, já
pressupõe algum tipo de dominação ou subjugação do outro, geralmente sobre, mas
não limitado a, uma mulher. Isso passa uma ideia errada de que ser “homem de
verdade” é conquistar e dominar.
Sempre que escravizamos, tornámo-nos escravos
das nossas acções e decisões. Por conta de ser ideias de masculinidade ligadas
à opressão própria e de outrem, que portanto faz mal a todos, vou utilizar o
termo cada vez mais conhecido: masculinidade tóxica.
O que à partida parece ser um desafio agradável
ou uma aventura, acaba por tornar-se uma grande pressão sobre os homens para
provar a sua masculinidade, mesmo para quem não se identifica com a ideia de
dominar. A ironia é que achamos que ser hipermasculinizados nos torna forte,
mas a verdade é que nos sentimos constantemente impelidos a defender a nossa
masculinidade. Por que é que algo tão forte precisa ser constantemente
protegido?
No campo da sexualidade, aprendemos desde cedo
que a única forma correcta e aceitável de um homem viver a sua sexualidade é ser
heterossexual e de preferência hipermasculinizado, que é ao mesmo tempo um
conquistador por excelência e que está sempre pronto para o sexo com várias
mulheres ou pelo menos com o máximo de mulheres possível.
Neste contexto, o sexo entende-se
como e reduz-se à penetração vaginal ou anal com o pénis sempre erecto e de
preferência durando o máximo de tempo possível. Isso representa uma pressão muito grande sobre
os homens, que começam a acreditar que são inferiores a outros ou que têm algum
problema sério caso não se
enquadrem nas seguintes características:
· * Um
pénis grande e grosso – muitos homens têm uma ideia distorcida do tamanho do
próprio pénis e muitos consideram-no demasiado curto, mesmo sem terem bases
reais de comparação;
· * Vontade
de ter sexo o tempo todo;
· * Vontade
de conquistar várias mulheres, especialmente as que são consideradas atraentes
· * Erecção
contínua ao mínimo estímulo ou durante qualquer contacto sexual
· * Desejo
sexual elevado, de um modo geral
· * Ser heterossexual, ou seja, atrair-se pelo sexo
oposto
· * Capacidade
de satisfazer sexualmente a parceira ou parceiro
· * Gosto
por pornografia
· * Etc
Por outro, os homens pensam geralmente que têm
algum problema se uma ou mais das afirmações seguintes constitui a verdade:
· * Se
têm um impulso sexual baixo
· * Se
sofrem de alguma disfunção sexual, tais como, ejaculação precoce ou disfunção
eréctil
· * Se
sentem atracção física por outros homens, homens e mulheres ou por nenhum dos
géneros
· * Ou
se de alguma forma não vão de encontro ao que aprenderam na família, com os
amigos ou na sociedade no geral.
Algumas consequências da masculinidade tóxica para os homens
* * Sentimentos
de desajuste em relação às expectativas próprias e as dos outros. Sentir-se
longe de ser o homem ideal;
· * Nervosismo
durante a relação sexual, o que causa ou agrava questões como a ejaculação
precoce e outras disfunções, visto que muitas delas podem ter origem mental ou emocional
e não necessariamente fisiológica.
· * Auto-cobrança
e cobrança aos outros homens para se encaixarem em ideias artificiais;
· * Medo
de comunicar quando têm dúvidas ou inseguranças sobre o campo sexual
· * Medo
de não ser considerado homem por parte dos outros homens e até das mulheres
· * Por
tudo isso, é comum haver sentimentos de solidão, ansiedade, depressão,
insegurança, alienação, revolta, auto-rejeição, etc.
Para evitar isso é preciso haver um (re)educação sobre masculinidades e sexualidade. Desse modo, o homem pode tornar-se dono de si mesmo e não refém do seu corpo, mente e emoções.
s (continuará)
Luís Paulo (Akshar)
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