domingo, 28 de junho de 2020

Homens. Masculinidades. Sexualidade. (Parte 1)



A sociedade passa-nos a ideia de que ser um “homem de verdade” está associada à força, dominação, virilidade, auto-controlo, tolerância à dor, etc. São esses e mais conceitos que são transferidos para o campo das relações afectivas e sexuais também. Isso faz com que vivenciemos a masculinidade de uma forma hermética e rígida.

O homem muitas vezes acredita que não pode ser sensível, algo que se revela uma armadilha, já que ser sensível significa capacidade de sentir e é o que precisamos para sentir prazer, entre outras coisas.
Frequentemente acreditamos que como homens, temos de ter sempre iniciativa quando se trata de se envolver tanto romântica como sexualmente com os outros. Aprendemos que se não formos caçadores e não conquistarmos, não somos homens suficientes. A própria palavra conquistar, já pressupõe algum tipo de dominação ou subjugação do outro, geralmente sobre, mas não limitado a, uma mulher. Isso passa uma ideia errada de que ser “homem de verdade” é conquistar e dominar.


Sempre que escravizamos, tornámo-nos escravos das nossas acções e decisões. Por conta de ser ideias de masculinidade ligadas à opressão própria e de outrem, que portanto faz mal a todos, vou utilizar o termo cada vez mais conhecido: masculinidade tóxica.

O que à partida parece ser um desafio agradável ou uma aventura, acaba por tornar-se uma grande pressão sobre os homens para provar a sua masculinidade, mesmo para quem não se identifica com a ideia de dominar. A ironia é que achamos que ser hipermasculinizados nos torna forte, mas a verdade é que nos sentimos constantemente impelidos a defender a nossa masculinidade. Por que é que algo tão forte precisa ser constantemente protegido?

No campo da sexualidade, aprendemos desde cedo que a única forma correcta e aceitável de um homem viver a sua sexualidade é ser heterossexual e de preferência hipermasculinizado, que é ao mesmo tempo um conquistador por excelência e que está sempre pronto para o sexo com várias mulheres ou pelo menos com o máximo de mulheres possível.

Neste contexto, o sexo entende-se como e reduz-se à penetração vaginal ou anal com o pénis sempre erecto e de preferência durando o máximo de tempo possível. Isso representa uma pressão muito grande sobre os homens, que começam a acreditar que são inferiores a outros ou que têm algum problema sério caso não se enquadrem nas seguintes características:

·      *  Um pénis grande e grosso – muitos homens têm uma ideia distorcida do tamanho do próprio pénis e muitos consideram-no demasiado curto, mesmo sem terem bases reais de comparação;
·   *  Vontade de ter sexo o tempo todo;
·   * Vontade de conquistar várias mulheres, especialmente as que são consideradas atraentes
·   * Erecção contínua ao mínimo estímulo ou durante qualquer contacto sexual
·   *  Desejo sexual elevado, de um modo geral
·  *  Ser heterossexual, ou seja, atrair-se pelo sexo oposto
·  *  Capacidade de satisfazer sexualmente a parceira ou parceiro
·  *  Gosto por pornografia
·   *  Etc

Por outro, os homens pensam geralmente que têm algum problema se uma ou mais das afirmações seguintes constitui a verdade:
·     * Se têm um impulso sexual baixo
·     *  Se sofrem de alguma disfunção sexual, tais como, ejaculação precoce ou disfunção eréctil
·     *  Se sentem atracção física por outros homens, homens e mulheres ou por nenhum dos géneros
·    * Ou se de alguma forma não vão de encontro ao que aprenderam na família, com os amigos ou na sociedade no geral.

Algumas consequências da masculinidade tóxica para os homens
* *   Sentimentos de desajuste em relação às expectativas próprias e as dos outros. Sentir-se longe de ser o homem ideal;
· *   Nervosismo durante a relação sexual, o que causa ou agrava questões como a ejaculação precoce e outras disfunções, visto que muitas delas podem ter origem mental ou emocional e não necessariamente fisiológica.
·  *  Auto-cobrança e cobrança aos outros homens para se encaixarem em ideias artificiais;
·  *  Medo de comunicar quando têm dúvidas ou inseguranças sobre o campo sexual
·   *  Medo de não ser considerado homem por parte dos outros homens e até das mulheres
· * Por tudo isso, é comum haver sentimentos de solidão, ansiedade, depressão, insegurança, alienação, revolta, auto-rejeição, etc.

    Para evitar isso é preciso haver um (re)educação sobre masculinidades e sexualidade. Desse modo, o homem pode tornar-se dono de si mesmo e não refém do seu corpo, mente e emoções.


s   (continuará)

  Luís Paulo (Akshar)
  Instagram: @akshar_tantra
  Youtube e Facebook: Anand Akshar
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segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020


Desmistificando o Tantra

Se eu tentasse descrever o Tantra, começaria por dizer que é algo que não cabe numa descrição ou definição. O Tantra é o que está antes e depois das palavras: as vivências em si, ou melhor, a vida em si. No meu ponto de vista Tantra não é um sistema nem um modo de ideias e pensamentos, mas sim um modo de viver. Não é teoria, mas sim prática.

O Tantra existe há milénios e está a ganhar novamente mais espaço e aceitação pelas pessoas como caminho e abordagem. As práticas actuais de Tantra são conhecidas por alguns como neo-tantra.
As pessoas associam o Tantra ao sexo com frequência, porque o Tantra é uma das únicas abordagens espirituais que encaram a vida com naturalidade e tudo que dela faz parte. O sexo não é, portanto, uma excepção, visto especialmente que é o que dá origem à vida. No Tantra não há divisão entre o sagrado e o profano.

O corpo é tão sagrado quanto o espírito e a escuridão tão necessária quanto a luz. É nas aparentes dualidades que se encontra a unicidade, o uno, o indivisível. Por esse motivo, o Tantra não é per se pró-sexo, da mesma maneira que não é contra o sexo. É simplesmente afirmador da vida em toda a sua inteireza.

O Tantra baseia-se na consciência, aceitação e no amor. E que não se confunda consciência com moralidade, aceitação com resignação e nem amor como romance. Aqui fala-se de consciência pura e plena, aceitação da realidade como ela é e não como gostaríamos que fosse e amor como energia e qualidade superior que cura e nutre tudo e todos.

No meu ponto de vista, tudo que é feito com esses três preceitos é tântrico. Mais do que “o quê?”, a pergunta seria “como”. Não é a acção em si que é certa ou errada, mas sim a forma como ela é feita que faz toda a diferença. Portanto, o acto sexual pode ser tântrico, mas também pode ser tântrico o acto de limpar a casa ou realizar qualquer outra tarefa.

Porque então viver com consciência, aceitação e amor? A consciência permite-nos viver intencionalmente e responder às situações da vida com inteligência à medida que elas vão se apresentando. A aceitação verdadeira e positiva da vida não é o mesmo que resignar-se em impotência, mas sim entrar voluntariamente em uníssono com o fluxo da vida e o amor é, em última instância, tudo o que buscamos sob diversas formas.

A partir daí vemos que o Tantra não é uma mera ferramenta para proporcionar melhor desempenho sexual, mas sim a arte de transformar qualquer acto em algo sagrado e de nos curar e nos tornar íntegros, tendo em vista que só através do amor e da aceitação podemos acolher as partes de nós que julgamos, rejeitamos ou condenamos.

Aprendemos na sociedade que partes de nós são menos dignas, vergonhosas ou problemáticas, quando na verdade nós somos a combinação de todos os elementos que nos compõem. Com o Tantra temos a chance de reintegramos o que está disperso e ferido em nós; a chance de sermos nós mesmos e nos amarmos por isso.

L.P. Akshar Almeida

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